domingo, 8 de julho de 2007

Luto - Uma não-ficção

Ela saía do caixa eletrônico. Tinha feito seu depósito e pensava na aula que estava indo. Pisou fora do banco e mais nada ficou claro. Não ouviu o barulho, apenas sentiu a bala entrando na cabeça. Não se assustou, não houve tempo para sustos. Não sentiu dor. Não houve tempo pra dor. Apenas estava viva num segundo e morta no próximo.

Quem estava ao redor se escondeu, pois os tiros não paravam. A notícia correu entre os que se protegiam. "Estão tentando roubar um carro-forte." "Tem gente baleada." "Acho que uma guria morreu."

Sim. Uma guria morreu. Só que pra mim, e pra muitos portoalegrenses ela não era uma guria. Era uma amiga. Uma irmã. Uma colega. Uma filha. Não era Cristiana Cupini apenas. Era Cris. Era a Kuki.

Aos 22 anos, os sonhos desta vida foram interrompidos. Não mais casaria com seu namorado de quase 7 anos. Não mais se formaria em administração. Não teria mais 3 filhos. Não mais teria a oportunidade de mudar de planos sequer. Não mais nada. Não mais tudo. E o nosso Porto está a cada morte menos Alegre.
Nada mais bizarro e fictício que reconhecer a 3x4 da vítima do jornal.


Eu ainda tenho a certeza da outra vida para me consolar. Quem não a tem, sinceramente não sei como poderá superar. Kuki. Que Deus e os bons espíritos a tenham em seus braços, e que nossa incompreensão e dor não chegue em ti, apenas sinta o amor de todos e fique a cada dia mais iluminada, coisa que sempre foi.