quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Antes do café.

Na sala uma mesinha de plástico, um prato Duralex na mesinha, uma bergamota no prato. Sentado no sofá pego a bergamota, descasco, deposito as cascas no prato e como os gomos em frente à televisão. Na tela. Breakfast at Tiffany's, ou Bonequinha de Luxo para os brasileiros. Holly, a personagem de Audrey Hepburn canta e toca Moon River na sacada. Pego a bergamota no prato e descasco. No outro sofá está Audrey Hepburn, também comendo uma bergamota.

“Hi Audrey, didn't see you there...”

“Hello darling, just got here...”

Volto a olhar o filme que está ainda na mesma cena.

“Adoro essa cena.”

“Me too, darling, me too.”

Ouço gritos. Minha mãe e minha irmã brigam, e se aproximam da sala. Primeiro aparece minha irmã.

“É PORQUE TU NÃO ENTENDE!! TÁ TUDO ERRADO!!"

Logo após entra minha mãe na sala.

“TÁ TUDO ERRADO MESMO!!! PORQUE ESSA INGRATIDÃO TODA???”

Olho Audrey.

“Mãe, Renata, parem com isso, temos companhia. A Audrey tá aí. Olha o escândalo...”

Elas nem ouvem e continuam a gritar. Audrey sorri, dá uma piscadela e acaba a bergamota. Minha mãe e minha irmã continuavam a gesticular fortemente, mas os gritos agora estavam inaudíveis para Audrey e eu. Só ouvíamos Holly cantar Moon River. Audrey me olha.

"Listen... You know those days when you get the mean reds?”

“ The mean reds... you mean, like the blues?”

“No. The blues are because you're getting fat and maybe it's been raining too long, you're just sad that's all. The mean reds are horrible. Suddenly you're afraid and you don't know what you're afraid of. Do you ever get that feeling?”

“Sure.”

“Well, when I get it the only thing that does any good is to jump in a cab and go to Tiffany's. Calms me down right away."

Sorrio. Pego a bergamota de cima do prato. Quando volto os olhos para onde estava Audrey, nem ela nem o sofá estão mais lá. Minha mãe e minha irmã também não estão mais na sala. Nada de anormal. Descasco e não como. Canto com Holly.

“Moon River... wider than a mile... I'm crossing you in style some day. Oh, dream maker, you heart breaker...”

Agora estou at Tiffany's, entre todas as jóias, pedras e brilhantes.

“Can I help you sir?”

“What can I do for you sir?”

Não respondo às charmosas atendentes, apenas ando pela loja. Estou overwhelmed. Vejo cada jóia e seus mínimos detalhes, sem me aproximar muito, como se tivesse lentes zoom nos olhos. Até que olho para uma seção em especial: by Ricardo Brunno.

Sorrio. O que senti ao estar na loja se multiplica. Vou para o meio da Tiffany's e estou sozinho. Me sinto bem com isso. Sei o que vai acontecer. Audrey Hepburn entra pela porta. Mas não é realmente Audrey, o seu rosto é de outra mulher. Ainda mais linda e vibrante. Lágrimas escorrem no meu rosto enquanto ela se aproxima. Achei que nada fosse me fazer sentir melhor que ver minha seção, mas o impossível acontece. Me ajoelho e ponho a aliança mais linda que já vi na mão mais linda que já vi.

Batidas na porta do quarto. Ainda com o coração acelerado me arrasto para fora da cama. Lembro de todo sonho menos as duas coisas de sempre: o rosto da mulher e a aliança. “Serviço de quarto!” A rotina da noite acaba. A rotina da manhã começa.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Bela manhã

Batidas na porta do quarto. Ricardo Brunno se arrasta pra fora da cama enquanto ouve: "Serviço de quarto." Ricardo grunhe para a pessoa entrar. Um refinado garçom entra com um carrinho que carrega uma bandeja de café da manhã que inclui uma fatia de melão amarelo, café, duas fatias de torrada, manteiga, uma Zero Hora e um vaso delicado com uma margarida. "Senhor Brunno, seu café."
O garçom se move em direção a janela. Ricardo pega a xícara, serve o café, toma um gole, abre melhor os olhos, enxerga o jornal e em seguida o resto da bandeja. "Moro há dois anos nesse hotel e ainda há quem erre absolutamente tudo no meu café. Jornal errado, melão errado, flor errada e se essa urina é dos meus grãos colombianos, tu és o dono desse hotel. E fecha essas cortinas que não posso com esse sol." O serviçal fecha as cortinas. "Sim senhor. Farei as correções necessárias." "Meu banho dura 15 minutos." O garçom sai.

Ricardo entra em baixo do chuveiro, e, como diariamente, abre toda a torneira, encosta o queixo no peito e deixa toda a pressão da água em sua nuca, conta até 20, levanta a cabeça, alonga o pescoço e grita enquanto levanta os braços. Toma seu banho. Ao sair, põe seu roupão, faz cuidadosamente a barba, aplica mousse nos cabelos ondulados e os desarruma levemente. Se admira por alguns segundos, sorri e vai para o quarto.

Outra bandeja com melão espanhol, Folha de São Paulo, e uma Gerbérea o espera. Ricardo senta virado para a paisagem de prédios, serve o café, pega o jornal, dá um gole, sorri, e continua a ler e tomar seu café lentamente.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Jogo literário S+7

É simples... Texto publicitário. Troque os substantivos pelo sétimo posterior no dicionário. Olhe abaixo e vai entender...

propaganda original
Um amigo de verdade
sempre olha você de frente

Buchanan's o essencial permanece


propaganda S+7
Um amigo de vereda
sempre olha você de fresta

Buchanan's o essencial permanece




Texto(música)
Seu Antônio Castanheiro
é gaudério de verdade.
Ele é macho campeiro.
Não é fresco da cidade.

É amigo de vereda.
Não se espanta com friaca.
Conta causo na fogueira.
Corta sereno com faca.

Pr'esse macho campeiro
pior que puto de cidade
só gaiato forasteiro,
Que emana falsidade.

Disse Antônio Castanheiro:
“Somente o rio grande presta!
Um amigo de vereda
sempre olha VOCÊ de fresta.”