segunda-feira, 30 de março de 2009

Prazer e exaustão


Vi a Farra de Teatro pela primeira e única vez há alguns anos. Não lembro se 2005 ou 6. Só lembro de dois pensamentos:
As pessoas devem estar se divertindo muito fazendo isso.
Eu não teria coragem de fazê-lo.
Fiquei sabendo de outras, mas nunca mais me aproximei do evento. Das apresentações em praça pública, Assalto Teatral encarei, Farra era demais.

Pois que chega 2000inove e com ele uma nova Farra. Só que nessa eu entrei de cabeça. Desde 2008 resolvi quebrar paradigmas e enfrentar certos medos. Agarrei pelo menos 70% das chances para fazer isso. 2000inove quero mais. E a Farra era o lugar perfeito para exorcizar pudores e travas q só podem me atrapalhar na profissão que meu coração escolheu e minha mente deixou de lutar contra finalmente. Atuar.

Atuar é agir. E foi isso que fiz quando precisáva-se de uma negra para a cena que mais me fazia querer desistir da Farra. Ela homenageia uma africana que foi condenada a morrer a pedradas em praça pública. Seu crime? Seu marido havia sumido na guerra, e como mulheres não podiam trabalhar e ela tinha filhos para criar, a africana casou novamente. Taxada de adúltera, deveria morrer. Na Farra, a pessoa que faz a africana é perseguida, humilhada, tem toda roupa rasgada e recebe pedradas fictícias até não aguentar mais e esmorrecer.

Uma pessoa, dentre as que jogou pedras, se condói, vai até ela, tira a roupa e a levanta. Aos poucos, quase todos fazem o mesmo, dando um vigor e uma emoção solidária incrível pra cena. Meu lado atriz ama essa cena. Meu lado vaidoso, fútil e com certo pudor não acha nada bom. Pensei com meus botões: Se eu não for a agredida, existe 90% de chance de eu ser uma das pessoas de cabeça baixa que lutam consigo mesma porque não conseguem fazer aquele ato. Então fui a agredida. E foi a melhor escolha que fiz.

A agonia é incrível. O ódio emanado a ti é horrível, mas o amor posterior é mais forte. É um misto de emoções que certamente me será útil um dia e que eu nunca viveria nessa minha vidinha medíocre. Lindo. E isso é apenas uma das cenas. Cada uma me tocou de um jeito, às vezes difícil de se recuperar. Mas dá-lhe brasileirinho e a gente volta.

Três horas e meia correndo, sentindo, vivendo, agindo. Fora os ensaios. Meu corpo tá acabado. Meu coração revigorado. E no fim de tudo, vamos para I Parada do Teatro que a festa continua por mais duas horas e meia. Viva o Dorflex!