segunda-feira, 20 de abril de 2009

Povo satânico

Baratas. Se os homens foram criados à imagem e semelhança de Deus, as baratas foram, com certeza, criadas à imagem e semelhança do Senhor das Trevas. Animaizinhos asquerosos que sobreviveram às mais terríveis catástrofes. E mesmo assim, morrem com apenas uma simples chinelada. Será? Elas já foram donas do mundo e me parecem estar planejando retomar seu poder. Na Era Pré-cambriana, na qual o domínio era delas e não dos dinossauros, como muitos pensam, as diabinhas eram gigantescas, voavam livremente com suas imensas asas imundas. Com as tragédias, foram inteligentemente diminuindo seu tamanho para aumentar seu exército. Felizmente, conseguimos achar algumas maneiras de matá-las, afastá-las. Mas, assim como Deus não exterminou Lúcifer, não conseguimos exterminá-las. Pude perceber, durante essas últimas décadas, o quanto elas se adaptaram ao nosso mundo e as nossas armas letais.

Durante a minha infância, nos anos 80, nossas nojentas inimigas tinham entre quatro e cinco centímetros de comprimento na sua maioria. Pareciam ter um certo receio de invadir nossas casas, pois faleciam ao suave golpe de uma chinelada infantil. Época do Flit. Sem aviso prévio sobre essa invenção divina, as baratas morriam ao ouvir a palavra veneno. Voar em nossa frente? Nem pensar. E para fazê-las sofrer, era apenas necessário deixá-las viradas com as patas para cima, agonizando por não conseguirem se virar. Ah, bons tempos esses! Diversão para os infantes destemidos. As mulheres, que antes eram apavoradas, agora pulverizavam-nas com sangue frio. E as que ainda tinham medo, pediam para o homem da casa matá-las, como nos tempos de outrora. Ainda era fácil ser herói.

Porém, foi nessa época que elas decidiram recomeçar seu crescimento e evolução. O tempo passou, o lixo aumentou, a década mudou, e as baratas se desenvolveram. Já era preciso pisar mais forte nelas. A idade mínima para matança ficou ao redor dos 11 anos. Sua média de comprimento também aumentou até entre cinco e seis centímetros. Ficaram muito salientes essas baratas dos anos 90. Sabiam se esconder e invadiam nossas casas sem o menor pudor. Seu exército malacafento começou a ficar imune aos venenos. Criamos outros venenos mais fortes e mais potentes, e até isso estava no plano odioso delas. Algumas morriam, mas a sua maioria usou o nosso veneno para desenvolver ainda mais defesas. O medo feminino voltou a crescer. E, ao perceber isso, as nefastas arriscavam até alguns vôos em nossa frente. Todos nós, simplórios seres humanos, percebemos essa mudança. Mas preferimos não tocar no assunto. Afinal de contas, bichos que não se volvem sozinhos não podem ser perigosos.

Agora, novo milênio, as mesmas inimigas. Mais fortes, mais poderosas. E em parte graças a nós mesmos. O seu tamanho aumentou novamente. Está entre seis e sete centímetros em média. Para nós, verdadeiros monstros. Mas o tamanho é o menor dos problemas que temos com as baratas new millenium. Estão tão evoluídas que é preciso gastar quase meio tubo de inseticida para matar apenas uma delas. Quem sabe com somente uma simples chinelada? Não é mais simples, nem mais somente uma. Para se tornar herói hoje em dia, é necessário preparo físico e agilidade, pois é preciso correr atrás delas, atacando com diversas chineladas. No mínimo três para os fortes e cinco para os fracos. Como estão mais rápidas, só se dão ao trabalho de se esconder quando nós, pobres humanos, as perseguimos com nossa arma na mão. E se, por algum milagre, conseguimos pisar em alguma, temos que esmagá-las com vontade para não causar apenas uma leve dor de cabeça na new millenium. Os monstros diabólicos não se envergonham mais de voar aos olhos divinos. E o pior de tudo! Elas estão conseguindo voltar às patas sozinhas agora! Descobri isso numa das minhas caçadas. Em um dos meus ataques acabei virando-a, como uma figurinha em jogo de bafo. Ingenuamente quis poupá-la da morte e saí do quarto a procura de algo que protegesse minha mão, pois não tocaria nesse ser escroto nem mesmo para jogá-lo fora. Quando voltei para arena, a safada tinha se virado e fugido. Quase não pude acreditar.

Mas essa é a mais pura e cruel verdade. Essas são nossas verdadeiras oponentes. Guerras nucleares matam milhares de pessoas e as fortalecem. Agrotóxicos nos fazem mal e as fortalecem. O nosso consumismo só faz alimentá-las. Tudo que é maléfico faz bem para elas. Essa é a maior prova de sua origem satânica. Começo a pensar que o mundo já voltou as antenas delas há muito tempo. Os governantes e os donos de grandes empresas parecem marionetes agindo em prol desse repugnante esquadrão oponente e contra os de sua própria espécie. E nós estamos sendo levados a lutar contra nós mesmos. As demoníacas estão vencendo. Se todos os povos não se unirem e se tornarem um grande batalhão de chinelões, o povo sórdido irá triunfar. Não haverá heróis em condições de enfrentá-lo. Ele vai tomar conta de todo nosso espaço e nos extinguir. É isso que diz a profecia. Esse é o verdadeiro apocalipse.

terça-feira, 14 de abril de 2009

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- Isso não dá pra perdoar!
- Porque? Qual a diferença?
- A diferença é que tu ficou com... com um cara sem o centroavante!!
- Centroavante?
- Tu sabe, o dente da frente.
- Ah é, mas tu vai jogar nossa amizade fora por isso?
- Tu é que jogou! Sou uma pessoa que preza a educação, a cultura, o meio ambiente. Não tenho grandes preconceitos. Acho loiros, morenos, negros, amarelos lindos ou não, não é isso que define. Mas o que tu fez não é só uma extravagância! É um traço de personalidade! Tu é uma guria que beija caras sem o centroavante!!
- Caras, caras... foi um só e tu sabe disso. E ele era lindo, inteligente, charmoso, não ia dispensar por essa peculiaridade.
- Peculiaridade? É questão de higiene! Eu não posso nem olhar pra ti. Que nível de desespero, de insatisfação faz alguém fazer o que tu fez?
- Já disse que não é nada disso. É criação da tua cabeça. Não estou desesperada. Só gostei dele. Admito que havia um grande contraste entre a boca e a aparência geral dele. Mas depois do primeiro estranhamento acostuma-se.
- Tu! Tu te acostuma! Adeus. Não posso ser amiga de alguém que acha higiene bucal uma peculiaridade. Não me procura mais!
(CLIC)