sexta-feira, 25 de maio de 2007

Nostalgia

Havia uma fazenda no bairro onde nasci. Nunca soube onde se entrava, nem mesmo ao certo onde ficava, mas tinha uma fazenda no bairro onde cresci. Era só olhar entre os prédios, idênticos, baixos e beges, que lá estavam as vacas pastando. Como se houvesse um portal que levava a outro mundo atrás desses prédios. Poucos prédios. O bairro onde nasci era um bairro de casas. Casas sem grades. Casas sem portões. Casas que fronteavam uma linda praça, verde, enorme, com apenas alguns bancos e um balanço. Casas que respeitavam a pirâmide social.

Na parte mais alta da vizinhança, perto dos prédios, mas longe das vacas, estavam as casas ricas, lindas, únicas.Na parte mais um pouco baixa do bairro estava a minha rua. Uma rua com sua própria praça tomada por mato. Uma rua com cerca de cinqüenta casas. Todas idênticas. Mas todas sem grades e sem portões. Sua distinção era dada pela cor e pelo número. A minha casa era branca com janelas e portas marrom escuro, já a da minha vizinha da frente era branca de janelas e portas marrom claro. Diferentíssimo!

Na rua onde cresci não passava carros. Mas se jogava futebol e taco em seus paralelepípedos. Na rua onde cresci não tinha colégio, farmácia ou supermercado. Mas se tomava leite de vaca fresco. Não das vacas da fazenda misteriosa, mas da vaquinha criada no quintal de uma senhora que morava mais na base da pirâmide, e o vendia de porta em porta, em galões de metal. E tinha a “venda”. “Venda” que vendia de Q-boa a Stikadinho. “Venda” que já havia sido uma das casas idênticas. “Venda” que era uma aventura chegar. Uma aventura de cem metros, mas uma aventura. Principalmente pra mim, que não tinha medo, tinha pavor de cachorros. Pois como tinha cachorros soltos onde cresci! Os cem metros chegavam a virar duzentos no meu zigue-zague para evitá-los. Mas esse era o maior perigo de lá.

Onde nasci tinha duas pragas. Os cupins destruindo devagar e sempre tudo que é de madeira. E cerca de uma vez por ano aparecia um rato. Essa era a única vez do ano que via minha mãe apavorada. Isso fez com que meu pai, e outros vizinhos, comprassem espingardas. Ficava mais rápido se livrar do bicho quando ele aparecesse. Aos poucos eles não apareceram mais, e muitas reformas com muito Jimo cupim se livraram da outra praga.

Agora, apontando a espingarda entre as grades da minha janela, e desviando das grades do portão com cerca elétrica, pra acertar um desgraçado que passa todas madrugadas de SUV tocando funk carioca o mais alto possível... percebo que tenho o mesmo endereço, mas aqui não é mais onde nasci, não é mais onde cresci. Não é mais minha Porto Alegre.

5 comentários:

Lis disse...

Mas ta inspirada a mulher! Escrevendo ou rabiscando, ta dando um show! hehehehe
Guria, to com saudade... Acabei ficando aqui por Danbury por mais um tempo, mas agora q estas de endereco fixo continuamos nos falando.
Beijoca.

Lis disse...

(ai, q pessimo esse "elisangela"! hahahaha)

Cláudia disse...

valeu pelo inspirada!
demorei mesmo um tempinho pra saber qm era elisângela heheheh
meu computer deu pau e vou demorar um pouco pra postar de novo mas volta e meia dou um pulo nos meus filhos aqui hehehehhe

bjão
saudadeeeeeeesssss

[Gustaff] disse...

xD
muito legal, viu?
O finalzinho é impressionante hehehehe

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Cláudia disse...

q bom... era pra ser mesmo.