Sempre acreditei, e agora tenho certeza, que trabalhar o estilo clownesco agrega muito ao trabalho do ator. Começa pela experimentação corporal que numa escala menor pode servir de composição para os mais diversos personagens, sejam eles cômicos ou dramáticos.
Além do trabalho de corpo, a presença completa em cena que o clown exige, para que se possa lidar com o inusitado é algo que sempre procurei e procuro como atriz. Teoricamente simples, estar 100% presente em cena, mas não tão simples de ser executado. Senti diferença em cenas que fiz para câmera, dentro do mesmo personagem antes e depois de começar as experimentações clownescas. Tanto na questão da presença quanto na percepção de ritmo da cena. Esse é outro ponto no trabalho do clown que vejo poder ser usada em qualquer outro tipo de trabalho de atuação. Tentar ver as mudanças de ritmo que cada cena pede, ou como torná-la mais interessante ao mudar esses ritmos é um trabalho incessante e que esteve totalmente presente na nossa experimentação.
Outro ponto é a conexão, a troca, o jogo. Seja entre os atores, seja com o público. O jogo entre os atores é algo claro que é de grande importância no trabalho do ator, porém na grande maioria dos trabalhos não usamos o público como aliados tão abertamente como no clown, mas, no meu entender, essa conexão não pode se perder completamente. Senti dificuldades nesse quesito durante as aulas, era um ponto que eu só percebi ser uma das minhas falhas como atriz durante a cadeira. Muitas vezes fiquei no meu próprio mundo, na minha própria bolha, como diria a professora. Infelizmente, quando a bolha começou a romper, acabou a cadeira.
Esses pontos citados acima, para mim, se mesclam com o desprendimento, desprendimento do ego, das regras, da realidade. A tal espontaneidade. Não consegui alcançar esse desprendimento completo nos trabalhos realizados. E esse é o maior motivo de eu querer continuar experimentando acerca do clown. Para mim, a principal diferença entre um grande ator e um ator apenas competente, é esse desprendimento do ego. Deixa-se um espaço bem maior para os personagens, suas verdadeiras intenções e sentimentos, o que ajuda a essa mescla ator/personagem a estar muito mais presente em cena e a cena muito mais real e interessante.
Os que conseguem esse feito são os atores quase irreconhecíveis de um papel para o outro quase sem auxílio de maquiagem. É minha busca e acho o trabalho clownesco uma das ferramentas para atingir esse objetivo.
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