quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mestre Britto

O IV Palco Giratório Sesc não começou bem, começou maravilhosamente ótimo. Não tenho a pretenção aqui de fazer uma crítica teatral de "A última gravação de Krapp", que vi nesse domingo porque não tenho nem formação nem vocação para isso. Apenas direi o prazer que foi ver essa monólogo de Beckett encenada por Sérgio Britto, sendo que não havia visto nenhum dos dois e eu ainda processava tudo quando ele perguntou sobre nossas sensações.


Ela é peça com
um ritmo mais lento que as pessas atuais, o que foi (surpreendentemente) um alívio pra minha cabeça, depois que ela conseguiu se concentrar nesse ritmo. No ato Krapp, há a delícia do humor negro, sarcástico que amo, mas o que me capturou de verdade foi o segundo ato.

Eu nunca, nos meus poucos anos de vida, me conectei tanto com um personagem. Não exatamente um personagem, mas um momento. Dentro da cena do deserto, com a peça prestes a terminar, Krapp (era ainda Krapp? era seu alter ego? era o retrato d ser humano?) desiste. E parado, apenas olhando para o horizonte, Mestre Britto passa a maior quantidade de sentimento que já vi alguém passar pelos olhos. Uma angústia desesperada é o mais perto que posso chegar de uma definição.

E essa força me transporta. Não vejo mais as cabeças na minha frente no teatro. Não vejo mais nada. E o homem se aproxima, ou eu me aproximo dele. Me vejo frente a frente com aquela figura. Meu coração fisicamente dói. Não choro. Só olho para os olhos dele e vejo ele se iluminar mais que o palco. Minha alma lembra. Por um momento somos quase um. As luzes se apagam.

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